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A Importância do Preparo Ortodôntico na Cirurgia Ortognática: Fundamentação Científica.
A cirurgia ortognática, ao integrar disciplinas como ortodontia, cirurgia maxilofacial, e psicologia, caracteriza-se como um procedimento altamente complexo, exigindo planejamento detalhado e colaboração interdisciplinar. Dentro desse contexto, o preparo ortodôntico emerge como uma fase indispensável, não apenas para garantir resultados estéticos, mas, sobretudo, funcionais e estáveis a longo prazo. Este texto se propõe a aprofundar os aspectos biomecânicos, clínicos e psicossociais que fundamentam a importância do preparo ortodôntico na obtenção do sucesso integral da cirurgia ortognática.
O preparo ortodôntico, enquanto fase pré-operatória, desempenha um papel crucial na harmonização das relações intermaxilares e na otimização da oclusão dentária, servindo de base para uma manipulação cirúrgica mais precisa e eficaz. Estudos sugerem que a ortodontia pré-operatória é responsável por promover o alinhamento dentário e distribuir as forças oclusais de maneira equilibrada, criando um ambiente anatômico favorável para o reposicionamento cirúrgico dos ossos maxilares (Proffit et al., 2013). A manipulação osteotômica bem-sucedida depende da correta disposição das arcadas dentárias, sendo essa relação entre ortodontia e cirurgia um fator preponderante na diminuição das complicações intraoperatórias e no alcance de resultados estáveis (Cheung et al., 2018).
A sincronização dos processos ortodôntico e cirúrgico tem sido descrita como uma interface sinergética fundamental para o êxito do tratamento. A literatura destaca que a ausência de um preparo ortodôntico adequado pode resultar em uma sobrecarga biomecânica no pós-operatório, aumentando o risco de recidivas (Reynders et al., 1999; Joss et al., 2010). O correto alinhamento e nivelamento dentário, por sua vez, facilita a precisão cirúrgica ao garantir um substrato anatômico adequado para a execução das osteotomias maxilares e mandibulares, melhorando a previsibilidade e o controle dos resultados pós-cirúrgicos (Hoppenreijs et al., 1997).
Em relação à estabilidade pós-cirúrgica, é amplamente aceito que o preparo ortodôntico desempenha um papel fundamental na adaptação tecidual e na manutenção da correção cirúrgica a longo prazo (Bailey et al., 2001; Busby et al., 2002). O reposicionamento dos dentes e a coordenação das arcadas durante o tratamento ortodôntico minimizam as tensões excessivas nos tecidos periodontais e articulares, criando um ambiente favorável à cicatrização e integração óssea após a cirurgia. Essa abordagem reduz o risco de recidivas e facilita a adaptação funcional do sistema estomatognático (Cheung & Lo, 2018; Reynders et al., 1999).
Do ponto de vista psicossocial, o preparo ortodôntico também desempenha uma função significativa. A fase pré-cirúrgica permite ao paciente uma adaptação progressiva às mudanças faciais e oclusais, o que, segundo Phillips et al. (2014), é fundamental para mitigar o impacto psicológico de uma transformação estética tão significativa. A ortodontia, ao promover uma transição gradual, ajuda a reduzir a ansiedade e o estresse associados à cirurgia ortognática, aumentando a satisfação do paciente e a aceitação dos resultados pós-operatórios (David et al., 2013).
Além disso, a comunicação entre a equipe multidisciplinar, composta por ortodontistas, cirurgiões e, em alguns casos, psicólogos, é um pilar crítico no planejamento da cirurgia ortognática. A literatura enfatiza que o sucesso do procedimento depende de um planejamento conjunto, onde a troca de informações entre os profissionais envolvidos permite uma abordagem mais precisa e integrada (Proffit et al., 2013; Joss et al., 2010). A identificação precoce de desafios biomecânicos, o planejamento das fases cirúrgicas e ortodônticas, bem como a gestão das expectativas do paciente, são elementos essenciais para garantir a estabilidade a longo prazo e a satisfação estética e funcional (Bailey et al., 2001).
Com base em uma fundamentação científica robusta, é possível concluir que o preparo ortodôntico não é uma etapa complementar, mas sim um componente essencial da cirurgia ortognática. A interação entre a biomecânica ortodôntica e a intervenção cirúrgica proporciona não apenas resultados esteticamente agradáveis, mas também a estabilidade funcional necessária para evitar recidivas e garantir a longevidade do tratamento. Em síntese, o preparo ortodôntico e a cirurgia ortognática devem ser vistos como processos interdependentes, cujo sucesso só é alcançado quando há uma integração harmoniosa entre ambos.
Referências
- Bailey, L. J., Cevidanes, L. H. S., & Proffit, W. R. (2001). Stability following surgical-orthodontic correction of skeletal Class III malocclusion. The Angle Orthodontist, 71(3), 217–226.
- Busby, B. R., Bailey, L. J., & Proffit, W. R. (2002). Stability of surgical corrections for mandibular deficiency: A study of 146 patients. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, 60(12), 1401-1409.
- Cheung, L. K., & Lo, J. (2018). Orthodontic preparation for orthognathic surgery: A clinical review. International Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, 47(7), 839-849.
- David, D. J., Powcharoen, W., & Richards, S. (2013). Psychological impact of orthognathic surgery: A comparative study of surgical outcomes. The British Journal of Oral & Maxillofacial Surgery, 51(6), 501-507.
- Hoppenreijs, T. J. M., Freihofer, H. P. M., Stoelinga, P. J. W., Tuinzing, D. B., & van’t Hof, M. A. (1997). Stability of osteotomies in orthognathic surgery: A review. Journal of Cranio-Maxillofacial Surgery, 25(3), 134-141.
- Joss, C. U., & Thuer, U. (2010). Post-surgical stability of mandibular setback osteotomies: A systematic review. European Journal of Orthodontics, 32(3), 315-323.
- Phillips, C., Bennett, M. E., & Broder, H. L. (2014). Dentofacial disharmony: Psychological effects and treatment options. International Journal of Orthodontics and Orthognathic Surgery, 25(2), 144-158.
- Proffit, W. R., Fields, H. W., & Sarver, D. M. (2013). Contemporary Orthodontics (5th ed.). Elsevier Health Sciences.
- Reynders, R. M., De Clercq, C. A., & Devriendt, J. J. (1999). The long-term stability of surgical-orthodontic correction of skeletal Class III malocclusion. The European Journal of Orthodontics, 21(3), 309-318.